Um poema é mais memorizável que um parágrafo em prosa;
uma canção é mais memorizável que um poema.
Eric Havelock, 1996.
A poesia grega nos seus primórdios era cantada e não apenas declamada. Um exemplo são os Aedos, que eram declamadores-cantores profissionais itinerantes que declamavam relatos míticos e aventuras em versos de sua autoria acompanhados em geral do som da lira [1].
O autor desse Blog percorreu caminho parecido, pois conheceu a beleza da poesia brasileira de Carlos Drummond, Manuel Bandeira, Cassiano Ricardo e Raul de Leoni, primeiramente através das canções dos grandes nomes da nossa música erudita. César Guerra-Peixe, Villa-Lobos e Lorenzo Fernândez foram contemporâneos de alguns desses poetas e puderam homenageá-los musicando seus principais poemas.
Mas a obra prima criada pelo poeta e pelo músico só estará completamente realizada no momento em que for interpretada por um bom cantor. E um boa interpretação compreende, não só um boa técnica vocal, mas também boa pronúncia e dicção do idioma cantado. Há gravações antigas de cantores brasileiros que quase não conseguimos perceber que o texto cantado está em português. Infelizmente, nem sempre houve intérpretes interessados em criar uma escola nacional de canto. Boa parte dos nossos cantores sequer conheciam o nosso cancioneiro, preferindo o repertório internacional.
Mas, há grandes nomes que elevaram a canção brasileira a padrões de interpretação louváveis. Destacamos o tenor Aldo Baldin, que inicialmente se notabilizou pelas gravações que fez das Cantatas do alemão Johann Sebastian Bach, mas que também deixou uma gravação soberba das Serestas do carioca Villa-Lobos.
VILLA-LOBOS por Aldo BALDIN
- Pobre Cega - Seresta Nº 1 (Álvaro Moreyra)
- O Anjo Da Guarda - Seresta Nº 2 (Manuel Bandeira)
- Canção Da Folha Morta - Seresta Nº 3 (Olegário Mariano)
- Saudades Da Minha Vida - Seresta Nº 4 (Dante Milano)
- Modinha - Seresta Nº 5 (Manuel Bandeira)
- Na Paz Do Outono - Seresta Nº 6 (Ronald de Carvalho)
- Cantiga Do Viúvo - Seresta Nº 7 (Carlos Drummond de Andrade)
- Canção Do Carreiro - Seresta Nº 8 (Ribeiro Couto)
- Abril - Seresta Nº 9 (Ribeiro Couto)
- Desejo - Seresta Nº 10 (Guilherme de Almeida)
- Redondilha - Seresta Nº 11 (Dante Milano)
- Realejo - Seresta Nº 12 (Álvaro Moreyra)
- Serenata - Seresta Nº 13 (David Nasser)
- Voo - Seresta Nº14 (Abgar Renault)
VILLA-LOBOS por Marcel QUILLÉVÉRÉ

Em 1992, Marcel Quilléveré, um tenor francês, gravou na Igreja de São João em Paris um CD com canções do Villa-Lobos que é referência no catálogo do compositor brasileiro. Com uma voz maravilhosa e uma pronúncia excelente do idioma português, Quillévéré não se limitou as canções mais conhecidoas do mestre brasileiro, mas prestou um serviço ao povo brasileiro realizando a primeira gravação mundial das seguintes obras:
- Sertão no Estio (Arthur Lemos);
- Miniaturas;
- Il Bove (Carducci);
- Coleção Brasileira (Carlos Sá);
- Padre Nosso;
- A Cascavel (Costa Rego Jr);
- Ave Maria;
- Epigramas Irônicos e Sentimentais (Ronald de Carvalho);
- Três historietas (Francisco de Carvalho; Manuele Bandeira; Ribeiro Couto)
- Bonsoir, Paris! (Wrigth e Forrest)
GUERRA-PEIXE por Maria da Glória CAPANEMA
Segundo Guerra-Peixe, a cantora Maria da Glória Capanema (Guerra), poderia se quisesse, criar a escola nacional de canto, por entender que não se canta a canção nacional como se fosse um canção italiana com seus vibratos típicos.
Nesse LP, que nunca foi relançado em CD, o soprano Maria da Gloria interpreta do mestre petropolitano, os magníficos Cânticos Serranos nº2 com poesia um importante conterrâneo do Guerra, o poeta Raul de Leoni.
Guerra-Peixe
- Cânticos Serranos nº2 (Raul de Leoni)
- Cantigas do Amor Existêncial (Octacílio Rainho; Pierre Weil; J.L.Moreno)
- Toadas de Xangô
- Outros autores: Padre José Maurício, Ascendino Theodoro Nogueira e Lourenço da Fonseca Barbosa
Por Graan Barros
Fontes:
[1]http://greciantiga.org/arquivo.asp?num=0218